VIDA DO VAQUEIRO
Em pé, na porta
Ela observa o gado
Cada um que passa
Qualquer coisa torta
Da lida e do seu trato
Entre aspas
Pergunta por mimosa?
Ficou no lajeiro
Cuidando do bezerro
Cria formosa
Fala todo prosa
O valente vaqueiro
Essa preta não prenha
Vamos descartar
Amanhã falo com o cigano
Que pelas banda vai passar
Espero que ele venha
Acolher meus planos
Com vontade de comprar
Trocando a novilha
Em uma carga de rapadura
E uma sela arriada
Pois a minha está esgotada
De tanto uso na trilha
Afinou sua textura
Amanhã vou tirar leite
Somente para queijo
Dois litros pra senhora
Esse é o meu desejo
Se for do gosto aceite
Não vendo nem por esmola
Quem quiser beber
Que vá lamber sola
Ou que use o leite em pó
Pois amanhã não vai ter
Nem uma gota só
Para a Santana vender
Será um dia das trevas
Hoje vou desmamar
A Bezerrada grauda
Pois já tá passando da hora
De deixar a nossa ajuda
E eles irem embora
Vou separa o cavalo
Vou mudar para o burro
Pois ele não aguenta o embalo
Ele já tá em apuros
E uns dias na manga do susto
Pra ele é mais seguro
E vai dar menos custos
Vou pegar no armazém
Uma quarta de milho
Pra dar pro boi fubá
Pra deixar mais atrevido
Pois ele anda meu mole
Sem vontade de montar
E se assim continuar
A vacada não vai aumentar
Pois não haverá prole
Do velho e bom guzerá.
Agora vou para casa
A mulher estar à esperar
Já tenho três dia na mata
Ela já vai reclamar
Perguntando o que se passa
Se isso já não é meu gostar
Que pegue logo a mala
Pois outro vaqueiro ela vai encontrar
Como gosto muito dela
Vou subir na minha sela
E lá pra casa tocar.
VIDA DO VAQUEIRO
FRED COELHO 2018