Poema a dois
Ei! Anjo torto que pisou em mim!
Por que, como querubim, não miraste outro
Longe de mim, o pobre homem sem festim,
Pisado há muito no próprio rostro?
Quem é alma que de anjo é
Se não a sinonímia entre mal e perverso?
Retóricas de um ser clamante qualquer
Tentado pela tentativa de pô-las em verso.
Sou eu, o mau dos séculos, a morte.
Cuidaste do que era teu em tempo,
Agora tudo é visto em relances e cortes
No teu juízo último diante do Senhor do tempo.
Manda, marca a ferro, monta...
As consequências da vida sobre as costas nuas.
De joelhos deitados nas nuvens conta
Segredos milhares ao bom Deus nas alturas.
Só tu, pequena vida, ficou para trás.
Desatormenta-se dos terrores da Terra
Ao na terra deitar-se onde jaz.
Clama, pede, chora...
Vendo em luzes fugazes suas histórias
De mais maldade do que bondade. Motivo que o apavora.
Perdão, Rei da vida, posso descansar agora?
O assentir do Pai lhe manda a glória
E o homem afunda em solo firme o sono dos salvos em boreal aurora.
Ao filho ingrato o perdão não é dado.
E o homem chora dores do arrependimento.
Nem lei, nem bondade o deixará guardado do inferno árduo de seus atos, em terra, em vários acontecimentos.