O livramento

Livramento

Estou no patíbulo

A um passo do carrasco

Com seu machado em riste;

Há sangue em seus olhos;

Da boca espumante

Pinga uma gosma branca, leitosa;

A multidão espera

Tal qual em um coliseu romano;

Minha cabeça sobre o cepo

Também espera o golpe fatal.

Atento, o rei na sacada,

Prepara-se para o sinal...

O silêncio ensurdece a alma.

Os milhares de olhos aflitos,

Sedentos do sangue,

Não se importam com a inocência

Com a culpa ou clemência.

Os meus, com rara dificuldade;

Conseguem ver quando o rei

Faz o sinal de positivo;

Fecham-se pela última vez

E para sempre;

A sensação do gosto de sangue Já

Desce pela garganta decepada.

E a cabeça rolando geme a agonia;

O grito da multidão...

Mata! Mata! Mata!

De repente, um baque surdo!

Meus olhos abrem-se devagar...

Esperavam ver meu corpo

Se contorcendo de espasmos mortais,

Porém, o que vê?

A cabeça do carrasco,

Que urra e se debate de agonia

Babava ainda mais, roncava como porco.

Um ataque de coração.

As algemas foram soltas,

A multidão gritava como a galera

Na hora do gol! Bradava! saciada.

Esqueceram de mim.

A morte do carrasco lhes deu o prazer

Que esperavam, aplacou-lhes a ira.

Eles, de mim nada sabem;

Aliás, nem eu mesmo sei muito bem.

Meu pecado era ser cristão,

E, ao mesmo tempo,

Ser gente honrada como todos eles.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 18/10/2013
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