Sangue e Pó



Ó bela Roma, joia rara,
Refrigerada pelos ventos Mediterrâneos
Cidade Eterna, linda, majestosa,
imponente, orgulhosa,
entronizada sobre os montes, pelos séculos sem fim!

Sobre tuas sete colinas, tens vivido tuas glorias,
em tua cabeça, trazes os louros
das vitórias, das conquistas,
dos teus Cesares,e de mulheres
famosas e formosas,
como Júlia, Lívia e Otávia, Hortência e Messalina...!

Mas, quem pode contemplar-te,
Sem reportar-se ao teu passado,
Teu negro e horrendo passado?
De imperadores tiranos, desalmados,
E de santos sangrando estraçalhados
E seu sangue na arena derramado
Misturado com o pó!

Ah, quem podia resistir
Aos dentes felinos, de feras selvagens,
Famintas, sedentas, de sangue espalhado...?


Em meio aos teus palácios,
Se erguem as ruínas do teu Coliseu,
Onde o sangue de fieis,
Se misturam ao pó, num amalgama só
Na enorme arena
e clamam, justiça aos Céus!

Grande Colosso,
tuas pedras gritam do alto
aos povos que passam por ti,
admirados da tua beleza, estrutura e grandeza,
e que atestam suas glorias sem fim!
E se ouve tua voz orgulhosa,
Que mesmo em derrota,
Não das o teu braço a torcer!
"Eis-me aqui, inda estou de pé,
Vejam, sou a imensidão,
E dessa cidade, senhora cidade,
Sou o coração"!

Das minhas ruínas, de glorias passadas,
Da magnificência, majestade e beleza,
Eu trago os vestígios, de um tempo cruel!
Mesmo as pirâmides do grande Egito,
Ou a bela Babel, se curvaram ante mim...
É, eu sou mesmo assim!
Mas olhando do alto, das tuas sacadas,
de pedras quebradas
Avistamos na arena, a tua miséria explicita!
E dessa arena, se erguem os mártires
Levantando suas mãos!
Ouço gritos e mais gritos,
Que sobem do sangue e do pó!

Ó Céus, onde estás?
Ecoam na imensa arena,
Tendo por cobertura a abóboda celeste
de intenso azul!
Misturam -se aos apupos nas arquibancadas,
Dos nobres senhores e matronas pagãs;
“Trazei-nos os mártires e soltem as feras,
Queremos ver sangue, 
escorrendo no chão"!

Porém, vinda da arena, ouço a voz de Perpétua,
senhora da corte, que se convertera, e separada de sua família,
esposo e filho, é martirizada, mas, não negou a fé.
Presa e, condenadaa morrer na arena do anfiteatro,
Louvava a Deus, por cada chifrada, do touro selvagem,
que tem enrolado, seus chifres na rede, que envolve o corpo da doce cristã!

Meus ouvidos atentos, percebem a voz de Gaudêncio...
Clama Gaudêncio, faço côro contigo,
Não negues, prossegue, enfrenta o martírio!
De repente, outra voz, é a voz de Inácio de Antioquia
O bispo lançado ás feras também. Em oração comovida ele fala com Deus;
“Agradeço aos Céus pelo privilégio, De ser acorrentado, como o foi Paulo,
o grande apóstolo do povo gentio, um grande e santo homem de Deus!
e dizia mais:
“Sou o trigo de Cristo; serei moído pelos dentes de feras
para que possa ser achado o mais puro pão”.

O rugido das feras, se ouve na arena em meio aos cânticos
De jovens donzelas, de cabeças erguidas, enfeitadas com corôas
de flores colhidas nos prados.
Caminham destemidas vestidas de branco
como se estivessem á caminho do altar, para se casar...
Elas cantam louvores, se inclinam adorando, e erguendo seus olhos, contemplam os Céus!
vislumbram pela fé o doce amado, De glorias ornado, de braços abertos,
O noivo fiel!

A plateia se enfurece;
“Como pode esse povo, seguir para a arena,
Como quem vai á uma festa, á uma Vestal”?
Como podem as cristãs, entoar cantilenas,
ao Deus crucificado, morto e sepultado, e que afirmam que esse Cristo,
já ressuscitou?

Entre os nobres pagãos, e o populacho, risos histéricos, zombando dos santos,
provocam-nos, imitando-nos,em suas orações.
"Clama a Deus, quem sabe ele ouve,
e te livra do martírio e da morte certa"?

E, do Sangue e do Pó, e das carnes rasgadas,cristãos proclamam; Vitória, Vitória!
Das arquibancadas, um procônsul romano,
Exclama desolado:
“Victi Sumus” (Somos Vencidos)
E naquele ambiente, de gritos bestiais, Misturados aos louvores e adoração,
Outras exclamações;
alguns se levantam, com os braços erguidos, Suas vozes embargadas,
não temem os algozes e as perseguições,
E num coro uníssono, se manifestam contritos;
Também Sou Cristão!




 

Ahavah
Enviado por Ahavah em 06/11/2014
Reeditado em 21/01/2023
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