Asilo da rua Braga Barros

Eu era muito velho

Em um asilo daqueles que velhos pegam sol de manhã sentadinhos ali, quietos

E do outro lado do gramado, que os outros velhos só podiam olhar

Você passou pequena e séria como costumava ser

Eu gritei com voz de velho, mas você apertou o passo como se tivesse ouvido

Esqueci que era velho e me coloquei de pé, e correndo como se fosse menino 

Desviei dos outros velhos que também tentavam levantar mas não podiam 

Aquele sonho era meu.

E quando você me viu, correu mais ainda, mas desta vez pra eu pegar você

Quando te agarrei, daquele jeito bruto de pai que só tem filhos homens e trata as meninas brincando de briguinha, olhei

Seu sorriso, agora já bem velho

sorriso de mãe, de mulher, me disse saudades

Ficamos os dois ali, parados, no chão, bem velhos, enquanto os outros velhos cantavam de longe

Canções muito, muito velhas de keith Green como “Obay is better the sacrifice…”

E nos olhávamos com a total certeza de que quem não sabe quanto tempo tem, tem pouco tempo…

por André Alves Castro

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Enviado por Cotidianidade em 10/05/2015
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