Asilo da rua Braga Barros
Eu era muito velho
Em um asilo daqueles que velhos pegam sol de manhã sentadinhos ali, quietos
E do outro lado do gramado, que os outros velhos só podiam olhar
Você passou pequena e séria como costumava ser
Eu gritei com voz de velho, mas você apertou o passo como se tivesse ouvido
Esqueci que era velho e me coloquei de pé, e correndo como se fosse menino
Desviei dos outros velhos que também tentavam levantar mas não podiam
Aquele sonho era meu.
E quando você me viu, correu mais ainda, mas desta vez pra eu pegar você
Quando te agarrei, daquele jeito bruto de pai que só tem filhos homens e trata as meninas brincando de briguinha, olhei
Seu sorriso, agora já bem velho
sorriso de mãe, de mulher, me disse saudades
Ficamos os dois ali, parados, no chão, bem velhos, enquanto os outros velhos cantavam de longe
Canções muito, muito velhas de keith Green como “Obay is better the sacrifice…”
E nos olhávamos com a total certeza de que quem não sabe quanto tempo tem, tem pouco tempo…
por André Alves Castro
TEXTO PUBLICADO NO SITE COTIDIANIDADE
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