Goles de menos-monstruezas

Realmente sou um monstro. Não que não soubesse disso antes de afirmar, é que afirmar agora, no momento, no sentimento, tem um significado profundo, é como se afirmar fosse mais do que afirmar, como se dizer fosse mais do que dizer, como se a quebra do silêncio que antes me enovelara fosse também a quebra de um sigilo de alma, como se eu tivesse quebrado uma promessa que fiz a mim mesmo no inconsciente sem saber que tinha feito, como se tivesse descoberto o que eu mesmo tinha escondido de mim sobre mim, como se a verdade finalmente tivesse vindo à tona, e automaticamente me levado à lona. É uma sensação de liberdade e prisão, é libertador, é sufocante, sente-se algo mais que suspeita, sente-se a verdade, há a liberdade da verdade, contudo, preso às consequências do que se sente depois de se sentir, torna-se em si mesmo o eu a prisão do eu em lágrimas.

O dia foi monstruoso. Resumo dele: Lágrimas e dores. Por quê? Porque a vida é monstruosa, e eu tenho que lutar com esse fardo nas costas – sou um monstro, numa vida monstruosa, que tenta ser menos monstro, talvez humano... ser uma sombra já seria o suficiente.

Sou um monstro em tantos sentidos, em incontáveis sentidos, na absurdez do sentido. Sou e de quase nada tenho mais certeza que isto. O momento do dia em que mais me lembrei da minha monstrueza foi quando fui olhar fotos numa rede social. Na verdade não fui olhar fotos, elas me apareceram. A foto me veio e... simplesmente lembrei impetuosamente, tateando meu entendimento, das pessoas a partir dela que sou um monstro. Sou um monstro que monstrenguea minha monstrueza apenas por olhar o mundo. Só de olhar sou monstro. O que dirá de pensando! Às vezes, então, ter uma capacidade que outros não têm, ou que poucos têm, ao contrário de ser privilégio é dor total – meu caso, meu monstruoso caso. A foto pareceu um vídeo para mim, cheia de detalhes, cheia de informações, cheia de fatos torturantes que pareciam me degolar, me esquartejar, me ferir, me decepar...

Vivo como monstro. Caminho como monstro. Destilo minhas gosmas de monstro quando choro ou quando abro a boca para falar. Sou monstro que monstrenguea vivendo do lado de fora ou de dentro, se me acham bonito então acham-me na máscara que nem sei se tenho, se me acham inspirador acham-me então no fôlego que já perdi. Sou monstro, que urre, que rosna, que vive monstruosamente.

Monstros devoram e dão medo. Não é incomum encontrar os que me temem. Qual o motivo do temor? Eu ser como sou. Chamam o medo de medo, chamam o medo de intimidação, chamam o medo de inveja, chamam o medo de tudo, chamam às vezes até minha monstrueza de altivez, de arrogância, não me importo, afinal, sei que sou monstro, mas tento saber isso acima de tudo de forma humana. Monstros devoram e dão medo mesmo. Não há culpados, então.

O que devoro? Gente. Seres. Não literalmente por ter bom gosto. Metaforicamente. Sou monstro que devora registros, sou monstro que devora olhares, sou monstro que devora vidas. Eu juro que tento não fazer mal a ninguém – talvez até consiga na maioria do tempo – contudo não consigo, e nem quero, ser outro que não sou eu, ser um que não é humano ou monstro da forma que eu sou. Se eu sou eu, e se ser eu é ser monstro, então sou monstro autenticamente. Se eu fosse eu o tanto que gostaria de ser não sei como seria... Mas, só aí eu talvez não fosse mais monstro, ou fosse tão monstro que deixaria de ser porque fui além do limite. Não sei. Não me importo.

Hoje, contudo não foi de todo mal, não me suportando fui conversar com o único que conheço ser o totalmente-não-monstro – Deus conforme os leigos. Apenas falei como me sentia, não pedi nada, a não ser que fosse entendido onde não me entendo, e que Ele ouvisse a oração que até ali não tinha conseguido fazer seja por falta de pensamento, seja por falta de palavra para expressar o que pensei. Houve resposta. Levantei-me ainda me sentindo monstro, mas me levantei me sentindo um pouco menos monstro – como se falar fosse beber, como se falar com Deus fosse beber de algum líquido limpador de monstruezas. E assim deve ser mesmo. Água da Vida vem de Deus.

Com Deus o passado continua sendo o maior monstro dentro do homem, continua sendo o rei dos monstros, contudo, o poder do passado sobre qualquer um é o poder de lhe questionar o quanto o futuro poderia ser diferente se alguma decisão diferente tivesse sido tomada. De alguma forma misteriosa quando se está com Deus isso não é totalmente verdade, o passado, então, frente a Deus perde sua maior arma. Sim, é fato que as escolhas poderiam ser outras e dessa forma um novo futuro existiria. Entretanto de alguma forma louca quando se está com Deus sente-se que nem todas as coisas que se pensa realmente seriam diferentes, poderiam ser diferentes. Vivemos em pura ilusão, para que se torturar com mais outras? Imaginando mundos que não existem? Imaginando passados que não voltam? Já há ilusão e peso demasiado na vida, pensar que há um Deus cuidando de você em toda essa desgraça ajuda um pouco.

Destino, peso, passado, vida, futuro, presente, agora, antes, o que não é, o que poderia ser... Essas coisas são grandes demais.

De longe aparenta ser uma forma covarde de se ver as coisas, Deus não é objeto de alívio, não é droga para amenizar dores. Mas, de fato, não é disso que estou falando. Deus não é meu objeto, Ele é apenas um amigo preocupado que sempre ajuda quando pode, afinal, eu não decidi viver para Ele?

Não fui bem consolado nessa história, mas que houve alívio houve. Acho que chorei umas duas lágrimas a menos do que choraria normalmente. Graças por isso!

~Leandro Santtos

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Leandro Santtos SM
Enviado por Leandro Santtos SM em 18/12/2016
Código do texto: T5856778
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