Poema à Morte

Primaveras passam nem percebo

Nem minhas folhas caem no outono

Incontáveis verões de abandono

Ininterruptos invernos de desejo

Dias intensos e noites sem sono

meu céu tão negro, nada vejo.

Tem piedade divindade Altíssima

E em carruagens me toma e conduz

Leva uma prece a senhora Santíssima

Por mensageiros seus anjos de luz:

Esta dor que a mim é duríssima

A morte é saída que há muito seduz.

Ó Algoz da hora incerta

Não tardeis ou fiques pelo caminho

Chegues, sobretudo, discreta

Estarei, entretanto, sozinho

A porta a espera aberta

De certa sabes o caminho.

Me leves contigo sem penar

De Tristeza já bastou a vida

Teus braços eternos a me embalar

Descansarei minh'alma ferida

Um balé fúnebre a dançar

Por todo o sempre minha querida.

Sepultarei comigo a tristeza

E jazerá a pouca alegria

Que senti com rara beleza

Que a vida me trouxe tardia

Mas levarei contudo a certeza:

Não consumi sabedoria

Não sabe-se nada da vida

Seu segredo ninguém conheceu

Quem dera eu desvendá-la um dia!