SÓ O VENTO...
 
Vergam as brancas frondes
sob o peso do vento e da neve...
Eu vergo de saudade...
Onde estás? Porque te escondes?...
Se até esse vento me descreve
teu vulto frio pelas tardes...
 
Pelos tristes nevoeiros...
Pelos descampados brancos...
Pelos solitários penhascos...
O cume dos pinheiros...
Vales e barrancos...
Pelas sobras de vinho... Dos frascos...
 
Me embriago desesperadamente...
Ah! O meu limite é esse gelo
donde escapa minha solidão...
E a miragem que não mente
as planícies alvas... O meu apelo...
Mas o horizonte... É uma ilusão?...
 
Esses túmulos de cristal...
Esses fantasmas acordados...
Essas velhas catedrais...
Em meio ao cipoal,
inóspitos e perpétuos, malgrados
do tempo e dos ais...
   
Há no espírito o luto...
Invisível são as horas
disfarçadas num véu de brumas...
O inverno é tão astuto!
E feito legião de lobos devora
de mim até as plumas...
 
As réstias de dignidade...
O derradeiro consolo...
A acerba lembrança
que é quase uma fraude;.
a punição por um dolo
que me fere feito lança...
 
Tu não vens... E só o vento passa
pelos postigos das janelas.
A esperança de uma luz, avara,
ainda dorme pelas massas...
Tão brancas! Só, fito as aquarelas
de um inverno que me desampara...