Devolução

pra que nada tenha sido em vão

à toa

tô te pedindo, na boa

pra você ir

embora

de vez.

não quero nem aceito mais que me mastigue

tô exausta

cansada dos silêncios

dolorida dos abismos,

das longas estradas e todos esses nós

que a gente se obrigou a amarrar

amor não é pra ser assim

é pra ser fácil, sabe?

sem aliança mesmo, ninguém falou nisso

deixa eu te contar:

foi você que não entendeu.

o tempo todo só era pra ser amor

era só pra ser bom, pra fazer bem

e eu sou exagerada mesmo, toda vida

brega, romântica

aluada

caso perdido

com os pés longe do chão

cabeça lá no infinito

mal sei que os românticos

eles são poucos, loucos, desvairados

que mesmo certos pedem perdão

que se dão, remam pra longe sem o mapa de voltar

sem farol

vestidos de coisa nenhuma

e na noite de chuva forte se abrigam no outro

fazem por manto o amor

só ele

se cobrem dele

e também se alimentam, se banham, se curam

desconhecendo que a distância entre o remédio e o veneno

é a dose

e overdose de amor também mata

mata feio

mata real

mata sangrando, arrancando partes, necrosando tudo por dentro

até parecer que não ficou nada

e no nosso nada

- seu e meu

não tenho interesse,

obrigada.

as lacunas, a frieza, o breu

você pode levar

leva também a indiferença

as mensagens que ficaram penduradas até perder o sentido de existir

as ligações não atendidas

- nenhum recado após o sinal

o afastamento por proteção

(contra o quê?)

e toda a ausência

toda ela

fica pra você

cá comigo só quero o que foi quente

o que eu toquei

o que tinha pele, sangue, pulso, presença

o que te fazia ligar, responder, correr pra cá

o que te fazia não ter medo

nem buscar sentido

o que fazia a sintonia existir porque a gente queria

e o universo só abençoava

aprendi que no vácuo nada se cria

nada se propaga

é um lugar que não tem graça nenhuma

e sem luz

sem calor, meu bem

eu não consigo

e eu tava em paz

eu tava muito em paz quando você chegou

mas dessa vez você veio estranha

veio vazia, sem quase nada a oferecer

e eu respeito, até tento entender

mas é que pra mim já deu

então vai

vai mas não volta

me deixa aqui com o seu cheiro bom

de quando tudo era pra valer

e leva embora essa mistura fria de solidão e medo que você deixou no seu lugar

só pra não ter sido a toa

pra não ter sido em vão

vai

(e não volta)

que de amor eu entendo

de frieza não.

https://www.youtube.com/watch?v=-FsWe2sc7mA

Marina Borges
Enviado por Marina Borges em 06/08/2016
Reeditado em 11/08/2016
Código do texto: T5720709
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