DA NOBREZA AO POVO

“De Mafra ao Sobreiro”

Badalão, badalão, já tocam as ave-marias

Nas altaneiras torres do Convento

Badalão toca o carrilhão ao vento

Chamando toda a gente para as cortesias.

Dlim, dlim, já toca a grã-sineta para a missa

No alto da fachada da capela

Dlim e já se ouve bem a voz singela

Tocando a alma naquela gente submissa.

Ressoão, ressoão, já se ouve a voz do órgão

Nos claustros majestosos desta igreja

Ressoão, voz de Deus que se deseja

Clamando em coros os seus hinos de eleição.

Rape, rape, nas duras brigas dos ferreiros

Nos loucos fogaréus da triste aldeia

Rape p´ los lares na luz da fiel candeia

Comendo o negro pão do suor dos jornaleiros.

P´ la lei e pela grei, honrando a diva Corte

E servindo banquetes em cada mesa

P´ la lei se batam palmas à nobreza

Fazendo deste mundo um céu de bela sorte.

Haja Deus, haja Deus, façamos-lhe menção

Nas contas do rosário feito fome

Haja Deus que desconhece o nosso nome

Num destino fatal de plena servidão.

Ó céus, ó céus, p´ la Arte a Deus se engrandece

Ó vida, ó morte, ó dor da alma que amanhece!

Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 29/08/2016
Reeditado em 29/08/2016
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