Pássaros, homens ...sonhos.

Sonhou e acordou

E dormiu e não sonhou

E por não saber sonhar

Seguiu sonhando

Os sonhos mais errados desta vida

Aprendeu a subir em árvores

E descobriu o modo certo

de atravessar as ruas sem morrer

E mesmo sem cair das árvores

Aprendeu melhor que ninguém

A ser alvo das dores

Que se sentia ali mesmo, no chão

E tentaram roubar-lhe a alma

Quiseram-lhe apagar

O brilho dos olhos

Muito fizeram

Pra tirar-lhe a poesia, que fluía

Mas ela estava no mundo

Seus olhos simplesmente viam

Machucaram-lhe a palavra

Segundo a segundo

Plena e claramente o afogaram

Num pântano infecundo

Quebraram-lhe os cântaros

Temiam que ele fosse um pássaro

Que fingia tanto bem ser homem

Mas de homens e pássaros

Só prende-se corpos

Ambas as almas voam

Nisso destoam de tudo mais:

Enxergar o vento que não se vê

E faz voar

O coração que seja leve

Mas não há nada neste mundo

Que os leve à força

Ou que lhes apague a maneira de sonhar

Nem dinheiro no qual se apeguem

E assim trilhou seu rumo

Sonhando, voando e vivendo até morrer

Como seguem seus rumos

Os pássaros

E os homens sem costume

de terem os sonhos aprisionados.

Edson Ricardo Paiva.