NO PAÍS DO JOÃOZINHO

«Era uma vez um certo e admirável país

De quem sempre se disse “à beira mar plantado”

Mas do qual, por outro lado, também mal se diz,

Não se sabendo o que está certo ou ´stá errado…

Dizem que, antes, não havia liberdade

E dizia-se, também, que havia repressão

E que as pessoas viviam com dificuldade

E que não estava garantido o ganha-pão.

O meu pai me levava cada dia à escola

E eu queria até contar-vos um segredo:

Se me portasse mal tiravam-me a bola

E o professor causava-nos imenso medo.

A minha mãe, coitada, ela era só tristeza,

E, muitas vezes, encontrava-a a chorar

Por não ter o que cozinhar pra nossa mesa

E eu, pequeno, sem a poder ajudar.

Na terra, só mandava o senhor Regedor

E a opinião de cada um não valia nada;

Por outro lado, na Igreja, o senhor Prior

Tratava todos os fiéis como uma manada.

No país, só mandava o Chefe do Conselho,

Que era tão importante como Deus na terra,

E qualquer cidadão, fosse ele novo ou velho,

Se não obedecesse ia logo para a guerra…

Mas houve um dia – foi meu pai que me contou –

Alguém neste país, ao ver a tal miséria,

Na força anímica do povo acreditou

E fez, duma Revolução, uma coisa séria.

- Conta cá, ó meu pai, como é que isso se passou?

- Olha bem, ó meu filho, queres saber toda a verdade?

Dessa Revolução pouco por cá ficou:

Talvez se salve uma minguada Liberdade…

- Mas, toda a gente diz que nasceu um País novo,

Não se chamou a isso o “vinte e cinco de Abril”?

- Pudera, dá a volta ao país e pergunta ao povo

Se ele, olhos nos olhos, é mais ou menos servil?

- Mas, olha lá ó pai, alguém se aproveitou…

Ripostou-lhe de chofre aquele Joãozinho.

- Ora vês, filho, como o teu caco lá chegou?

Em vez de ABRIL, ficou por cá um “Abrilzinho”!

- Ah, pai, agora é que eu estou a compreender:

O que se diz “Democracia” é uma ficção…

Só os Oportunistas, está-se mesmo a ver,

É que se abotoam à custa da Nação!»

Pois é, neste País do nosso Joãozinho,

Abundam os “democratas de trazer-por-casa”

Que o levam hora a hora por um mau caminho

Até que um dia ele há-de ficar sem asa!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 24/04/2018
Reeditado em 26/04/2018
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