HERANÇA

De Garanhuns herdei a frieza

dos rigorosos invernos

Um olhar de susto

do buracão da Liberdade

A apatia por amizades,

pois todas elas caçoavam de mim;

Por causa da minha cor,

do meu cabelo, dos meus traços...

Tenho ainda a indiferença empática

por que a angústia em mim

era maior que em qualquer outro

A minha aparente calma

vem do medo das longas estradas

que me conduziam sempre a noite

par a igreja seis dias semanais

De Garanhuns herdei

o antigo silêncio da Lacerdópolis

Garanhuns é terra de corredores

eu corria para fugar

do que fizeram com o meu eu

então tornei-me ensimesmado

Enclausurado entre livros e discos

para nunca mais desapartar

Tá tudo aqui ainda...

Eu sou neblina que ofusca o previsível

Eu sou o cheiro dos eucaliptos do Euclides Dourado

Eu sou o medo do Pau Pombo à noite

Eu sou o mistério das horas do Relógio das Flores

Eu sou o a tristeza do Cristo crucificado no Magano

Eu sou a saudade de Dominguinhos

Em mim há muitas Garanhuns

e eu sou todas elas

BINA DI LACERDÓPOLIS
Enviado por BINA DI LACERDÓPOLIS em 26/09/2018
Reeditado em 09/10/2018
Código do texto: T6460479
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