Feito nenhum
Feito areia.
Assim escorreu de minha mão o que era,
a ilusão mais longínqua, a quimera,
desprovendo a alma de todos os sentidos,
conduzindo às velas a audição dos ouvidos,
e empurrando o barco adentro em mar escuro.
Feito veia.
Saltou inflando o sangue naquela face,
e a ira foi demonstrada num desenlace,
quando palavras encheram o ar de heresia,
latejando na pele a dor que ali ardia,
e fez daquele navegar algo inseguro.
Feito seia.
Serviu-se em cada prato o desagrado,
e o dissabor que estava à mesa, insuflado,
não era o mesmo que parecia perecer
e degustou-se o que estava a corroer
na escassez de um cardápio obscuro.
Feito doença, sem cura.
Feito amor, sem futuro.