Conforto / Confronto

O conforto da calmaria até anima o pranto, esperando que a tempestade venha colher seus ramos, galhos, raízes, folhas ao vendaval do martírio inóspito dos meus pensamentos, ah, como deve ser saboroso fechar os olhos e pode silenciar os pensamentos...

Mas silêncio me toma, ou me tomam, ou me deixam aqui a calar os lábios tantas vezes que ao ouvir o som de minha própria voz sinto a garganta falhar, picotar, quase vibrar como um acorde desafinado e que logo depois procura se afinar, é, de muito usada a faca já não corta, mas de pouco usada não resta corda vocal pra dilacerar.

Ah, esperança vadia, que por vezes sorri da desgraça de nossa espera, enquanto mantém em nossa testa a pistola armada com uma só bala, torturando-nos se o puxar do gatilho falha ou nos mata.

E se desprende o gozo da permanência, na solitude estupida que me encontro, um conforto até que gutural quando, após tantas idas e vindas entre essa porta farfalhenta tive que trocar as trancas e fechaduras e dobradiças e a própria porta, não há mais chave pra teu retorno, não há nem mesmo morador nessa casinha, ou talvez haverá, decidir alugar pra alguém que não mais visite tal como medicação controlada que fora esquecida no armário.

E me perco no deslumbre de torcer mais uma vez as melodias em minha cabeça e transforma-las em silêncio falso, teu adeus não fez falta hoje, ontem até que me tocou, e amanhã eu talvez não possa dar certeza, ainda assim, é retumbante as vozes, e ainda assim com certeza uma ou duas tem razão, e me prendo ao desejo de que, se posso ter razão em minha própria cabeça, não preciso buscar sentido na mente alheia.

E só assim me vingo em terapia da minha própria agonia...

Maicon Lopes
Enviado por Maicon Lopes em 22/08/2023
Código do texto: T7867402
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