FISSURA
De repente
algo se partiu
um estalido quase inaudível
– silencioso, porém obreiro –
e uma fissura se fez
não no exterior
nem no interior
muito menos no meio,
que não se trata disso:
na fronteira
no limite
na charneira
dessa erosão
uma fenda se abriu
marcando a aproximação
do início do fim
sem mais senões
terminou a ilusão
não é isso o amor?
a ventania cessou
os anjos se recolheram aos céus
a fantasia se diluiu
qual brumas
do último sonho ao amanhecer
nenhuma lágrima vertida
nenhum grito no escuro, nada
só é quarta-feira de cinzas
a apreensão do acontecimento, contudo
sua verdade
só se deu quando se inscreveu na carne
dolorosamente
como se o corpo mimetizasse
o que a alma sente
Ana Guimarães
(texto já publicado no meu blog, O GOZO DA LETRA: http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=2475#p_26175 Visitem-no)