FISSURA

De repente

algo se partiu

um estalido quase inaudível

– silencioso, porém obreiro –

e uma fissura se fez

não no exterior

nem no interior

muito menos no meio,

que não se trata disso:

na fronteira

no limite

na charneira

dessa erosão

uma fenda se abriu

marcando a aproximação

do início do fim

sem mais senões

terminou a ilusão

não é isso o amor?

a ventania cessou

os anjos se recolheram aos céus

a fantasia se diluiu

qual brumas

do último sonho ao amanhecer

nenhuma lágrima vertida

nenhum grito no escuro, nada

só é quarta-feira de cinzas

a apreensão do acontecimento, contudo

sua verdade

só se deu quando se inscreveu na carne

dolorosamente

como se o corpo mimetizasse

o que a alma sente

Ana Guimarães

(texto já publicado no meu blog, O GOZO DA LETRA: http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=2475#p_26175 Visitem-no)

Ana Guimarães
Enviado por Ana Guimarães em 04/08/2008
Reeditado em 04/08/2008
Código do texto: T1113077