Morte.
De vento nebuloso,
madrugada sagaz.
E o dizer presunçoso
Diz que nada adianta mais.
Como Bandeira já bem disse:
- Faço versos como quem morre.
Também a velha e boa Clarice
Morreu sem alma que socorre.
E nesta augura, truculenta e vivaz
A vida é desforra, sedenta e sagaz.
A vida é resquício, martírio e dor.
São tantos, tantos vícios,
morrem todos de amor.
O amor os tira a vida, a mesma vida
sedenta e sagaz.
É por falta do velho e bom amor
que perdem a vontade vivaz.
Mas estes versos que dor encerram,
perdoem-me, não são versos de amor.
são versos jogados ao relento,
versos de vida sem cor.
Na verdade, não são versos meus:
não existem mais magnos,
trovas ou próprios adeus.
Faço versos como quem morre.
É a sobre-vida que resvala por dedos cálidos,
almas que me fogem.
Faço versos como quem morre, porque aos poucos
todos morrem.
O minuto já passou, menos tempo resta.
E a nébula, névoa, sedenta e sagaz.
Mesmo morrendo-me em versos,
ainda assim sou vivaz.
Sou vivaz de tanto perder amor,
se não é vida truculenta e austera,
de que me adianta a dor?
A dor é martírio, provação.
Do vento nebuloso,
mistério do coração.
A dor é magia inventada,
mas de ordem inversa.
A dor é alegria cansada,
é morte que se versa...