Morte.

De vento nebuloso,

madrugada sagaz.

E o dizer presunçoso

Diz que nada adianta mais.

Como Bandeira já bem disse:

- Faço versos como quem morre.

Também a velha e boa Clarice

Morreu sem alma que socorre.

E nesta augura, truculenta e vivaz

A vida é desforra, sedenta e sagaz.

A vida é resquício, martírio e dor.

São tantos, tantos vícios,

morrem todos de amor.

O amor os tira a vida, a mesma vida

sedenta e sagaz.

É por falta do velho e bom amor

que perdem a vontade vivaz.

Mas estes versos que dor encerram,

perdoem-me, não são versos de amor.

são versos jogados ao relento,

versos de vida sem cor.

Na verdade, não são versos meus:

não existem mais magnos,

trovas ou próprios adeus.

Faço versos como quem morre.

É a sobre-vida que resvala por dedos cálidos,

almas que me fogem.

Faço versos como quem morre, porque aos poucos

todos morrem.

O minuto já passou, menos tempo resta.

E a nébula, névoa, sedenta e sagaz.

Mesmo morrendo-me em versos,

ainda assim sou vivaz.

Sou vivaz de tanto perder amor,

se não é vida truculenta e austera,

de que me adianta a dor?

A dor é martírio, provação.

Do vento nebuloso,

mistério do coração.

A dor é magia inventada,

mas de ordem inversa.

A dor é alegria cansada,

é morte que se versa...

Andrea Sá
Enviado por Andrea Sá em 22/08/2008
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