Quase

Antes de provar sua teoria holística

De que a terra é uma esfera,

O filósofo Galileu quase perde a vida

Diante das arcáicas crenças da igreja.

Antes de se estreitar a relação,

Que entre dois seres principia,

Uma tormenta de talvez e não

Destoou os arranjos da sinfonia.

Assim como a brisa é quase vento

E o vento é quase ventania

E o triz é quase tempo

E o crepúsculo é quase dia.

Assim como quase onda é a maré

E quase oceano é o mar

E a crendice é quase fé

E o querer é quase amar.

Quase nada existe na constância do quase,

Senão a existência de desmedida vacuidade,

Que quase faz da gente o poeta da saudade

Retumbante de paixão não fosse o quase.

Assim como a infância é quase puberdade

E quase juventude é a adolescência

E a alegoria dos carnavais é quase felicidade

E a alfabetização é quase consciência.

Assim como quase tocam as estrelas

As mãos imersas no espelho d’água;

E quase o cérebro absorve a alma,

Não fosse o paradoxo entre alegria e tristeza

Não fosse o quase das pedras no caminho,

Teríamo-nos entrelaçado de corpo e alma;

E quem sabe aquém ou além do torvelinho,

Um para o outro seríamos pessoas encantadas.