Cansaço

Eu vi o tempo passar

Eu vi o vento sussurrar

As brancas mãos enrugar

E o enfado que há no ar

É inútil hoje meu saber

Pois não há mais tempo a perder

O que então hei de conhecer?

Se tudo que existe me lembra o sofrer?

Há tempos não sinto suave o sabor

Das maças viçosas, dos pêssegos em flor

Há tempos não vejo da Vida a cor

Ou sinto do por do sol seu brando calor

Cansei de tanto mal sorrir

Das falsetas, das misérias, do mentir

Inúteis telas da Vida colorir

Vazio, solidão e mágoa sentir

Então, o que estou a nutrir?

Sentimentos prestes ao léu cair

Que fazer senão sumir?

Do tempo e do espaço estou a fugir

Fujo, finjo, mato, minto

Rezo, peço, corro, choro

Renego, morro, nasço, sinto

Luto, amo, sou e oro

Procuro hoje não fraquejar

E todas as guerras já não sei lutar

E mesmo sabendo da morte certa

Conservo a porta do coração aberta

Ana Cristina Cattete Quevedo
Enviado por Ana Cristina Cattete Quevedo em 16/09/2008
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