A BELA E O FERRO

Era uma vez...

Ela sonhou com seu doce amor...

Meio príncipe, meio sapo, o que importa? Amor é sempre amor...

Assim, com uma flor no cabelo, pôs-se na janela a esperar...

Ali passavam as mais variadas criaturas: princesas envenenadas,

belas adormecidas, mouras tortas, dragões...

Menos o seu amor primeiro, a serenata ao luar, o ramalhete...

Então a mocinha já pegava idade moderada,

Agora poderia ser só o sapo mesmo,

um beijinho aqui, um terninho ali... já servia.

O lado príncipe nem era tão importante assim...

Assim, com uma flor no cabelo, decote arrogante,

pôs-se na porta a esperar...

Ali passavam ogros, bruxas, soldadinhos de chumbo, anões...

Nada de príncipe, nada de sapos... que angústia!

Um dia chegou um retirante, nem príncipe nem sapo

e olhou para a menina não mais tão menina

Decorou uns versinhos, passeou na praça, mãos dadas...

Romance mais perfeito não existiria jamais...

Cerimônia, grinalda, pajem, tudo de direito!

Começou a nova vida...

A plebéia que não encontrou sua carruagem,

O sapo que não virou príncipe e tornou-se fera...

Um filho, dois filhos, três filhos, princesa exausta,

Do tanque para a tábua, ferro de brasa em punho,

Da princesa o veneno, da bela adormecida o sonho perdido,

Muitos dragões, a torre das rotinas infindas,

A prisão lacrada pelas juras...

O ferro de brasa, os trapos engomados...

Princesa de nada, sapo embriagado, fera em açoite...

A bela que não recebeu mais serenatas, nem versinhos,

Nem passeou na praça... a mulher que se esqueceu...

Era uma vez...

E viveram assim, de qualquer jeito, para sempre...

A bela e seu príncipe, o ferro de passar...

Que final...

Nalva
Enviado por Nalva em 14/03/2006
Reeditado em 13/10/2008
Código do texto: T123190
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