Desabafo
Quantas vezes fui ridículo
tentando ser lúbrico.
Quantas vezes fui vítima
querendo ser bélico.
Quantas vezes me arrastei
por tropeçar em meu orgulho.
Quantas vezes me engasguei
com meu amor-próprio
atravessado na garganta.
Tentando ser poeta
tornei-me mentiroso
tentando conquistar
tornei-me carrasco.
Tantas e tantas vezes
o avesso atravessou o meu caminho.
Como errei
ao acertar com meu individualismo
ao afirmar meu egoísmo
ao ter como motivo de pena
as minhas próprias tristezas.
Mauro Gouvêa
Rio de Janeiro, 27 de abril de 1985 (aniversário de 20 anos)