A VÍTIMA E AS PRÓXIMAS VÍTIMAS
Um tomou a pena, molhou-a no sangue
da vítima estirada no asfalto
e escreveu a palavra vida...
Não devia ter escrito morte?
Outro pegou o pincel, umedeceu-o
no sangue da vítima
e escreveu a palavra céu.
Podia ter escrito inferno!
Outro olhou o dedo, meteu-o
no sangue da vítima
e escreveu a palavra amor.
Mas o coração sangrava... ódio...
Outro agarrou a vassoura e,
antes de varrer o sangue da vítima,
parou um pouco, a pensar...
Um grito saltou goela afora:
— Por quêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêê?
Este ansiava apalpar o sentido da existência...
Não teve resposta.
Deu as costas e saiu roendo as unhas
a passos bobos e olhar congelado...
Foi apenas mais um caso;
outros darão curso a essa falta de lógica a que chamamos vida.