Três segredos, três revelados
I
Ah! Que consome por dentro,
isso não posso negar.
A lembrança do fogo dos seus olhos me faz perder o chão
cair,
sucumbir
desesperar.
Quero correr, pra onde não possa mais ir,
chegar até o fim do poço,
pra ver sua imagem refletida no que restar nele.
No que restar de mim,
ao fim,
quando você me disser adeus.
Não é tão simples quanto parece,
nem tão complicado como eu faço parecer.
É sentido,
medo,
angústia,
calor,
raiva,
instinto.
Vontade – sim, quanta vontade-
queria poder me entregar todos os dias
mas seus olhos se queixam se me vêem assim,
paralítica,
estática,
hipócrita.
Sinto o medo que vem como fogo,
queimando minha carne,
tudo o que vê pela frente,
agressiva, eu choro,
e soco a parede,
até sangrar meus punhos,
até minhas veias saltarem,
pularem
pra que você as toque
e diga que elas são bonitas.
O que eu faço não depende de mim,
independe do que penso,
é o que me consome,
que me queima,
que me inflama,
que amarga,
que chora,
que reclama.
II
Não é bem assim,
não sofro tanto,
pois sorrio muito mais do que choro.
Quando penso nos seus olhos,
os meus brilham,
e logo meus lábios despertam num sorriso.
Você tem algo que me encanta,
algo?
Não,
tudo.
Toda sua forma,
por dentro e por fora,
que respira e inspira,
tudo me acalma, me traz luz, flores,
paixão.
Seria mais fácil se tudo fosse entregue,
mas não seria melhor assim.
Você tem seus motivos,
e te entendo,
compreendo,
e me vejo me sacrificando novamente.
Cortando os pulsos de novo.
Mas esse sangue é meu,
toma –te entrego-
me entrego,
faz de mim o que vc quiser,
só não me deixe pra depois,
como se eu fosse qualquer coisa menos importante que a imagem na tv.
Miragem,
seus olhos as vezes parecem miragem,
tamanha beleza e forma,
tamanha harmonia tem neste rosto.
Paro e olho,
e não entendo o que me puxa pra eles como se fossem meus,
como se fosse eu, num espelho,
refletida,
a minha própria alma e extravagância.
Pra você, eu teria que inventar novas palavras,
novos conceitos,
pra explicar de onde vem o brilho dos seus olhos.
III
Novamente elas caem,
abundantemente,
amorosamente,
friamente...gelando meu coração.
Elas,
frias,
gélidas,
puras,
púrpuras,
sangue,
água,
lavam a vontade que me corrói todas as vezes
que vejo sua alma no horizonte,
procurando uma saída,
apesar de ver tantas na sua frente.
Elas queimam às vezes,
me envergonham,
enfeiam,
me delatam, me entregam,
fazendo você me odiar,
pensando que estou maluca.
Mas na verdade é o que estou.
Pirei já há muito,
você só chegou pra me mostrar o quanto isso é bom.
Me revelo por inteira,
me faço sua,
te quero, sendo sua a minha alma,
que vendi aos caprichos do prazer no momento em que me deixei ser beijada.
De novo,
e mais uma vez,
seus lábios.
Agora, eles as enxugam,
e elas parecem ser doces,
sólidas,
lânguidas.
Você também as mostra,
você também as tem.
E assim juntamos nossa essências dentro de um vidro
que desde o início estava furado.
Coloca aí um remendo, meu amor,
coloca,
porque eu acho que hoje vai chover.