Anjo - Canto II

Afoguei-me

Anjo! por que me abandonaste?

Teu sorriso cândido tornou-se riso de escárnio

Tua face doce se transformou em um esgar

O que te aconteceu, doce anjo?

Ah! mais maligno, mais torpe, mais covarde

É o demônio que se transveste de anjo

É o príncipe que me aprisiona

É o lago sereno que me arrasta ao fundo!

Mais cruel é a lágrima quente

Que escondia teu prazer em meu sofrimento

Oh! abraçar-te, buscar tua ajuda pura

Enquanto erguias teu punhal reluzente...!

Antes gritasse comigo!

Tuas palavras mansas, cristalinas

E eu não via tua alma de gelo... ai!

Sangra-me! sangra-me até a morte

Meu corpo frio será lembrança

Do anjo decaído que visitou meu leito

Oh! belo como Lúcifer

Teus cabelos cor de trigo

Trazem enxofre vestido de jasmim...

Leva-me até teu submundo

Tua escrava, tua boneca

Inanimada, embalada em tuas asas negras

Tão brancas...!

Leva-me ao Éden dos perdidos

Onde Adão e Eva terão sempre seu lugar...

Teus olhos tornam-se brasas!

Temo; não ouso fitá-los

Sou sombra agora, sombra da donzela meiga que outrora fui

Estás sobre mim, dentro de mim

E agora sou tua

Desesperadamente tua...

Anjo pérfido, maçã do Paraíso!

Toca-me, tenha-me!

Deixe-me...

Menkalinan
Enviado por Menkalinan em 23/04/2006
Código do texto: T144105