FICOU VELHO, SEU CABELO LONGO

Quando as nódoas dos respingos da labuta,

a cada ano mais encardidas e amarelas,

se fizerem mais visíveis pela luta,

observa a luz do sol que trespassa a janela.

Se ainda assim, sem recompensa,

o arrebol descortina outro mesmo dia,

sendo a fadiga do tempo, imensa!

Suspira esta manhã angulosa e tardia!

Solta a panela e corre ao espelho!

Vês o que não te vêem mais.

O cabelo longo ficou velho

e longa é a estrada aonde vais.

Ei, senhora da aldeia!

Desabriga os vermes parasitas,

tua fadiga já não os pode, mas norteia

e de sorte, estás despida.

Ei, senhora de abismos!

Entre o liame da morte e da vida,

além ou aquém dos vícios,

cada manhã é uma despedida.

Ergue o olhar, cheiro de café!!

A perna treme, mas se ergue

Levanta-se. Terço na mão, sinal de fé

Côa o café, a rotina prossegue...