PASSARINHO

O tempo da poesia passou

Tudo se calou

Sepultada no fundo dos túmulos

Inspiração chora

Versos insípidos

Sobre o mármore reluzente

Não se segura as mãos nas ruas

Não se anda abraçados

Flores murchas de datas marcadas

Secam nos cachepós

O cupido foi substituido

Por álcool e anabolizante

Vive-se pelo prazer momentâneo

Ninguém cultiva sentimentos

Estrelas vagam pelo céu

Abandonadas pelos enamorados

Riscos impossíveis de meteoros

Covas rasas nos jardins

Musas semidespidas malham nas academias

Sacrifícios em regimes de pílulas

Cortes em clínicas de emagrecimentos

Beliverantes desfiles de sexo nas areias

Torrando corpos suados e esquálidos

Esculturas de silicone e cêra

A lua dorme num colchão de nuvens poluidas

Enquanto a sexualidade da juventude

Explode em desespero infrutífero

Nos embalos das raves sepulcrais

E dos conglomerados funqueiros

Exposta aos ratos drogados

O tempo da poesia passou

Tudo se calou

A feminilidade humilhada

Pela selvageria da propaganda

Baixaria e pornografia

A violência pela violência

As moedas enferrujaram no lodo dos poços

Desejos perdidos nos fios de cobre dos telefones

Viradas culturais a federem urina e vômito

Conspurcadas por interesses políticos

O lirismo enxotado para a periferia

Longe das pirâmides de vidro e aço

O sol derrete as lajes de concreto

Faces de subúrbios descontruidos

Pelo suor e sofrimento repressor

Crianças enxarcadas de ódio e ganância

Carnaval de instintos reprimidos

Mausoléos da lúxuria e do ócio

Cavaleiros fantasmas em romaria

Empunham espadas de São Jorge

Contra imensos moinhos sanguinolentos

As rimas medíocres da degradação humana

Chamas corrompidas pelo comércio da alma

A queimar as estrofes perfeitas dos sonetos

O tempo da poesia passou

Tudo se calou

Promessas desfeitas

Laços rompidos

Corações partidos

Canções amargas

carlos assis
Enviado por carlos assis em 12/05/2009
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