SEM DEIXAR SAUDADE


Se eu pudesse ressuscitar por alguns dias,
seria tragicômico e divertido.
Iria rir dos que choraram
e chorar com os que mentiram.
Relembraria, do velório,
os elogios falsos e tardios,
as estórias criadas para agradar presenças,
os falsos testemunhos maculando ausências,
os lenços cortinando a ausência das lágrimas.

Se eu pudesse ressuscitar por alguns dias
eu gostaria de morrer pela manhã.
Quando as maquiagens pesadas
são facilmente notadas. E, então,
depois de ressuscitado,
eu poderia dizer
às que me juravam amor eterno,
que o batom era falso,
por ter sido falso o seu sorriso;
que o rímel era falso,
por ter sido falso o seu olhar sentido;
que o pó compacto era falso,
por ter sido falsa a sua palidez.
Então, satisfeito,
eu poderia morrer outra vez.
Dessa vez de verdade,
sem ouvir mentiras
e sem deixar saudade...
 
Odir, de passagem.