Da tua frieza
Percebi que dormias
e que a tua dor,
a dor que engolias,
não era a dor da tristeza:
era a dor da frieza.
Da frieza que os ossos corroem,
da vingança que teus olhos saltam
e atropelam a tua voz.
Sim, a tua voz é fria,
é pérfida e extenuante,
uma fagulha ante o carvão.
Como existes, como vives?
Isolado, sem compaixão?
Sem te abalares,
procuras disfarçar
teus horrores, teus espasmos guardados,
o que ainda resta
que não seja torpor.
Vacilas... impreciso,
desvias-te do destino...
Chegas às madrugadas
vazio, deprimente
- estado de vileza e insanidade.
Não respondes aos chamados.
Vais errante sem ser notado.
São Paulo, 17 de julho de 2009.