Cicatrizes Incicatrizáveis

Pai, eu só tinha oito anos de idade,

Por que você fez isso comigo?

Eu era apenas uma criança tão indefesa que te amava tanto,

Que adorava meus coleguinhas,

E hoje eu odeio a mim mesma,

Odeio o reflexo de meu ser diante do espelho,

E a culpa é toda sua pai,

Porque você me tornou neste ser vazio, indiferente e repulsivo que hoje eu sou...

Não vejo mais beleza nas árvores, no céu, nas estrelas, na vida,

Não vejo beleza mais em nada.

Tudo o que minhas mãos tocam se tornam doentes e ocas,

Mas eu não quero morrer sem saber o que é ser feliz

ao menos uma vez,

Não quero partir desse mundo sem conhecer um grande amor de verdade,

Mas todo cara que eu beijo eu descarto na outra semana,

Porque sempre eu vejo e sinto tuas mãos Pai percorrendo o meu corpo,

E eu sinto nojo de minha alma,

Sinto que todo o meu corpo é um santuário de pecados,

E a culpa é toda sua Pai,

Porque você me destruiu por completa,

Você acabou com a minha vida,

Você Pai arrancou minha alegria de querer viver.

Escondendo-me em copos e mais copos de vodca misturados com meta-anfetaminas,

Tentando abafar minhas tristezas com morfina nos dias que a dor parece querer me mutilar,

Não sei até quando mais vou a tudo isso que intensifico suportar...

Eu tive um filho Pai,

Eu amava tanto aquele o cara que me engravidou,

Mas eu abortei propositalmente na terceira semana o meu filho,

porque eu me considero uma péssima pessoa;

acho que não nasci para ser mãe...

O meu filhinho!

Talvez o único ser capaz de me dar um motivo para viver,

Para não desistir da vida,

Um filho em que eu pudesse dar todo o amor que você não foi capaz de doar como deveria;

Um filho que seria minha razão de viver,

De querer me tornar em um ser humano melhor,

Até isso você me impediu de ser, de fazer Pai,

E eu não consigo me perdoar por ter matado uma criança que não teve culpa de existir.

Eu me odeio com todas as minhas forças Pai,

E espero que você esteja satisfeito por todo o mal que fizeste a mim,

A sua filhinha que você destruiu com a sua perversidade.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 23/09/2009
Reeditado em 27/05/2016
Código do texto: T1826757
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