SEXTA FEIRA: VESTÍGIOS
Como eram felizes as noites de Sexta
Em que te esperava, acelerado coração!
Na sala, nós dois, nossos livros, nossos discos,
Mozart, Miles Davis, My Funny Valentine,
Concierto de Aranjuez,
Copo de uísque, pedras de gelo.
E tua presença que me fascinava!
E tuas palavras que me conduziam!
Minha essência toda absorvia a tua,
Como a Lua, a luz do Sol refletia,
Silenciosa explosão de amor!
Como eram penosas as madrugadas de Sexta!
Com teus passos ébrios, pesados,
Em nosso leito te afundavas
E, sem carícias, procuravas o meu corpo,
Ultrajado depósito de teus instintos,
Sem que sentisses os devaneios de minh’alma.
Humilhada, te repelia ou me esquecia,
Sufocando desejos ardentes, fantasias perdidas,
Até o sono profundo te arrebatar.
E, enquanto insone, vigiava teus pesadelos,
Jurava: assim, nunca mais... Nunca mais...
Silenciosa renúncia de amar!
Como é doída, agora, a tua lembrança
Neste ambigüo jardim do Bem e do Mal!
Expulso estás de minha cama, de minha vida
Mas como castiga a tua ausência!
Como é sentida a tua partida!
E, neste lamento, sussurro esmaecido,
Repito: nunca mais... Nunca mais...