sinto mais do que adivinhas

Tal canção de desamor arremeda velho jornal

sem emoção qualquer, a querência despetalada

os versos espedaçados, os passos desarrimados

pés de esquina quebrados, alcança reles final

Sem retorno ao passado, amareleceu desbotado

A pipa desprendida, solta, caída em grotesco vão

Empinada em não lugares, em descolada versão

Esfarrapadas, medradas, ensombradas, espancadas

Se agora não mais me beijas, flor, tens razão

Se hoje mais não me queres, amor, sem emoção

Crê no impossível, apenas não sinta por mim

Já é castigo não tê-la. Não mais poder beijar-te

Não sentir teu corpo. Não desfaz de tanta sina

De um triste jardim sem ti. As cores desbotadas

O ar rarefeito, nenhum valor mais alto levanta

fenece a inspiração. Palavras só são palavras

O cantochão desenganado bate mesmo bordão

As emendas pioradas dos sonetos emprestados

Separados pelo riso do repente agora pranto

Ecoam o cinza-enevoado do sorriso desbotado

A espuma lançado à rocha, entanto

pelo vento que a vela enfunava

Faz-se novo desencanto, sem calmaria,

aturdido, os olhos nas náguas frias banhados

as brasas reacendidas já se vão apagadas

clama em desespero apaixonado

tanto ressentimento e drama

Súbito, não é mais amante, então

Só e distante erra, desventuroso

fios de aço farpado a cingir-lhe o coração