Sonhos... de Consumo

Sonhar se tornou tão necessário

E ao mesmo tempo tão inútil

Quanto é duro e arbitrário

O modo de vida fútil

Que nos ensina ao contrário:

Nos faz viver em função

De uma busca interminável

Para atingir o padrão

Totalmente inalcançável

De uma fictícia, global perfeição

Sonhamos com a paz a sorrir,

Mas não nos privamos de consumir

Sonhamos não ter violência

Mas quanto gastamos só com aparência?

Sonhamos a harmonia entre os homens

Enquanto pensamos em pôr silicone

Sonhamos com uma perfeita união

Mas morremos com depressão

Em nossa feroz busca por status

Lavamos a mão, tal Pôncio Pilatos.

Vivemos em um tempo estranho

Onde os sonhos são fachadas

Para um egoísmo tamanho

E uma existência fechada:

Por fora sonhamos ao mundo

Belezas e os mais puros ideais

Enquanto por dentro queremos

O nosso bem garantido, e nada mais.

Sonhar... já não é hoje

a mesma coisa que foi

Tornou-se a venda nos olhos

Da parelha do carro de boi

Fingimos querer o bem,

E o planeta finge que acredita

Mas um dia a conta chega,

Um dia o alarme apita.

E descobrimos talvez tarde demais,

Que até sonhamos, sim (e bastante)

Mas que os sonhos ficaram pra trás

Pois queríamos mais coisas na estante.