MUTILAÇÃO
Todas as noites me acolho
num leito desfeito e vazio.
Lá fora a chuva cai fina e fria,
uma ligeira camada de névoa
feito bruma densa,
cobre a face do meu tempo.
Em mim ponteia a dorida solidão,
que rasga feito faca cega o coração
e conduz a alma à um mar revolto
em ondas negras de recordações.
No aconchego árido do meu ninho
a saudade canta baixinho
e o peito desagua em dor,
num manso e quieto pranto.
Silentes momentos argentados,
dormentes sentimentos mutilados.
Ressequidos adventos
do desamor que aflorou
e a tudo secou...
2006