LIBÉLULA

O que me penetra agora

É desejo avassalador de ser má.

E sem culpa avançar e ir à forra

Fazer justiça com as próprias mãos

Para vingar-me das injustiças que sofri

Resgatar meu ser dos esforços vãos

Dos quais não me esqueci.

Deixai que se descole de meu corpo

A sombra que em luta se remói

Dos lutos cada dia,

De tantas perdas se enluta.

Em dor bruta

Minha alma se desfaz.

Despovoam de rimas meus versos

Até de rimas pobres que sejam

Já que a poesia seria pálida

Como pálido fica meu corpo sem sombra

Titubeante qual libélula zonza

Procurando pouso num mar que não tem fim.

Não busqueis depois de tudo

Qualquer resquício de doçura em mim

Ela ter-se-á ido

No ar se esvaído

Com minha sombra.

E sem ela,

Meu corpo terá morrido.