Um Fardo

Trago nos ombros um fardo

Que me esmaga cruelmente

Este fardo gosta de mim..como desprezá-lo?

Não tem jeito e eu marcho tristemente...

Este fardo me adora mas não me compreende

Este fardo eu pus num momento impensado

Nos meus ombros vazios

Depois quis entendimento com ele

Mas ele não me entendeu...

Mas este fardo acostumou-se em meus ombros

Outrora vazios

E não será transportado noutros ombros

Ele não quer...

Fardo teimoso!

Amante do local adorado!...

Mas eu que o carrego me desespero

E as vezes ameaço!

O fardo chora..

Meu peito lembra então

O quanto este fardo tem sofrido comigo...

No deserto e na chuva

Nas jornadas mais ásperas da vida

Nas piores dificuldades

Quantas vezes ele me foi sombra

Nos momentos de dor...

Assim vou levando-o pela encosta

Sem me realizar

As vezes transvio como agora

Que observo o futuro

Negro e sombrio...

Pois o fardo de tanto me amar

Ficou meu fardo

Eu não tenho mais coragem de arriá-lo

Ele não me largará jamais

Eu não o deixarei nunca...

Fardo pesado e adorado

Que num momento impensado

Eu pus nos meus ombros vazios

Fardo que aquece as minhas noites de frio...

Fardo! Meu fardo!

Amante do local adorado...

AUTOR: ERONIDES CARVALHO - Participação Póstuma

Dos Poemas de Meu Pai