Adorável morte!

Sei que vou partir e quero partir, desertar, falhar...

Gritos no silêncio de minha alma ecoam por paredes infinitas,

Quem pode entender meu vazio?

Quem pode querer habitar neste pântano que tornou- se meu coração.

Tão frio, tão abandonado, tão só,

Tento enveredar por caminhos, por estradas, por sombras,

Pro infinito que seja. Pra encontrar somente eu mesmo,

Neste cárcere que é agora minha morada,

Quais serão: minhas buscas, minha procura, minha eterna loucura,

Por ela que não vem...a morte.

Desejo-a com tanto ardor, com tanta gana, com tanta impaciência,

Que torno-me amargo a cada dia que ela não vem.

Ás vezes a sinto cortejar-me, a lembrar, de que é a ela por quem procuro...

Mas ela se faz faceira, e toma-me as vezes por brincadeira.

Só pra aumentar a minha pena, a minha dor, o meu silêncio, o meu grito...

Lágrimas sufocam, e não me libertam desta angústia que me segue os dias,

As horas, os momentos de infinita procura.

E a loucura não me toma, eis que minha lucidez é plena,

Meu caminho é certo, é definitivo, é irremediável,

Minha escolha já foi feita e, não há de ter ninguém, quem possa mudar isto,

Nem o amor, nem a felicidade, nem o encanto das manhãs de Novembro.

Ou das tardes de janeiro, tão quentes e longas,

Mas que não podem envolver-me, porque fria é minha alma, e triste é meu semblante,

Não esperarei mais, não ficarei mais a lamentar, só a abraçarei, Musa dos Aflitos,

Adormecerei em teus braços e na melancolia destes espaços, jamais irei acordar...

((Anne)) 30/10/05