Dilacerações - Muito Além do Jardim
As vistas fatigadas
Cansadas de querer enxergar
Aquilo que a imaginação audaz
Apenas lhes permite ver
Mas, esse cansaço não é o bastante
Nossa ingenuidade insiste
As vistas não cederam
- ainda -
Ao tempo demolidor
Antes, o que não existe mais
São os objetos que um dia
(Imagonou-se??)contemplou-se
Não só as vistas
A voz já não pode
Trazer um bom eco
E isso quando têm algum retorno
Os ouvidos não ouvem mais
A abundância de "vozes"
Tornou-se um enxame ensurdecedor
Que repelimos
Não nos rebelaremos
Contra as Leis Universais
Não somos exceção e nem especiais
O mundo impessoal nos ignora
Os átomos sempre seguem
Iremos, apenas, consumir-nos
Enquanto pensamos acontecer
Enquanto tentamos existir
Sem nem pensar em ser
Consumir-nos-e-mos
Gradativamente
Avidamente
Inutilmente e
Finalmente
As dilacerações?
Muito além de nosso jardim protetor
Não mais que estanques
De nós mesmos
Partes fragmentadas de nosso ser
Na guerra imaginária
Que só acaba com nosso próprio fim
Meios?
Detalhes?
Insinuações no percurso?
Não. Somente duas palavras:
Fim trajeto
E se o tempo e a impessoalidade
Invadirem teu jardim
E pisotearem, matando,
Todas as tuas verdades em flores
Aguça tua visão, tua voz e teus ouvidos
E contempla neste único momento de lucidez percuciente
A única coisa que tanto procuraste
E pela qual clamam tuas entranhas
Ferventes de um porto
Lugar-comum para depor os medos, dores, incertezas e
[interrogações
Contempla tua queda livre
Teu fim trajeto
A não existência de sentido
O nada em tudo
A tua própria ausência
Presa em tua própria vida.
Thaís Paloma - Campanário