Ousadia

Como ousas?

Assim, diretamente

Sem qualquer explicação

Fazer-te tão presente

Invadindo pensamentos

Criando-te em poesia

Sem introdução ou conclusão

E a interminável estrofe

que espiraliza sentimentos

turva-os sem conexão,

sem licença,

sem perdão.

Como ousas?

Quebrar dessa forma minha

mais resistente armadura

reflexo de falsa convicção

Meu mais poderoso escudo

e única proteção,

que me separa do teu mundo

(e me põe acima do chão)

de sentimentos fracos,

tolos,

suscetíveis,

opacos.

Como ousas, criatura?

Partir ao meio minha certeza

Enfeitiçar-me com tua luxúria,

(resquício de falsa nobreza)

Entorpecer-me com fúria,

pôr a prova minha frieza

Apresentar-te como pintura,

cegar-me com tua beleza

banhar-me com luz obscura

afogar-me em tua impureza

tornar-me anjo caído,

reles ser seduzido,

indigno,

desprezível

envaidecido.

Como ousaste?

Molestar minha alma quieta,

Ferir-me com teu encanto

e tua lisonja imodesta

Orgulhar-te, vil, de meu pranto

e da malícia a qual me testa

Fazer de meu peito tua festa

Fazer de minha alma nefasta

Devolva-me! Aniquila-me!

Dê-me minha cúpula casta,

Dilacere minha carne, pois esta

não mais é carne, é profana

e confusa e imunda e insana

que ousastes, sem permissão,

manchar sem introdução,

findar sem conclusão.

The Dreamer
Enviado por The Dreamer em 09/09/2006
Código do texto: T236490