Beijo Negado
1
Beijo não se pede, rouba-se.
E sinto o cruel remorso
De ter deixado morrer,
Palpitando nos meus lábios,
Um beijo inocente, virgem,
De língua mordida, assim,
Afinal pelos meus dentes.
2
Negaste o beijo pedido,
Que eu devia ter roubado.
Frustraste o próprio desejo
Por uma moral canhestra,
Algo com cheiro de leis,
Conflito de gerações,
Que nada terá que ver
Com felicidade e amor.
3
Já que tem de ser assim,
Fiquem teus lábios selados
Na mudez que nega o beijo,
Fiquem meus lábios trementes
No bote que não vingou.
4
Negaste o nosso presente,
Feliz enquanto durasse,
Em nome de que futuro?
Fica a mágoa na memória,
Pois aquele nosso beijo
Que não foi, mas deveria,
Viverá como a saudade
Do filho que não nasceu.
(In Mea Culpa, Ed. Codpoe, RJ, 1989)