Beijo Negado

1

Beijo não se pede, rouba-se.

E sinto o cruel remorso

De ter deixado morrer,

Palpitando nos meus lábios,

Um beijo inocente, virgem,

De língua mordida, assim,

Afinal pelos meus dentes.

2

Negaste o beijo pedido,

Que eu devia ter roubado.

Frustraste o próprio desejo

Por uma moral canhestra,

Algo com cheiro de leis,

Conflito de gerações,

Que nada terá que ver

Com felicidade e amor.

3

Já que tem de ser assim,

Fiquem teus lábios selados

Na mudez que nega o beijo,

Fiquem meus lábios trementes

No bote que não vingou.

4

Negaste o nosso presente,

Feliz enquanto durasse,

Em nome de que futuro?

Fica a mágoa na memória,

Pois aquele nosso beijo

Que não foi, mas deveria,

Viverá como a saudade

Do filho que não nasceu.

(In Mea Culpa, Ed. Codpoe, RJ, 1989)

Cleverson da Silva Gomes
Enviado por Cleverson da Silva Gomes em 07/10/2006
Reeditado em 24/11/2007
Código do texto: T258980