NEVOEIRO

Nado, posto por sobre o rio,

um nevoeiro de intenso frio,

sobe as águas, até à cidade,

como num grito de liberdade.

Se a Natureza o dita, nada há

que a impeça: sabemo-lo já!

É que dos deuses, a restrita lei,

de ao povo, a plebe: aqui del Rei.

Fogueiam-se fogos em latas;

vagabundos, enegrecem beatas,

para enganar seu triste fadário –

à distância, oculto, trina o canário.

Casas baixinhas, da baixa Lisboa,

privadas de calor, na Madragoa,

são feitas de estuque e velha pedra,

aonde nem a erva, sequer medra.

De soslaio, de parte, o eu versejar,

reparei, que o nevoeiro, é avançar,

eloquente sem excepção ou franca

fraqueza; e a nébula é tanta, tanta…

Nunca vi nada assim, por mi Sorte!

Pudesse, chamar-lhe-ia, a vil morte!

Aquela que, nunca se deixa prever,

e só no breve instante o quem de ser.

Como esta cortina cerrada e friorenta,

vinda do rio e da floresta, nevoenta,

que não nos deixa ver um palmo de testa,

por mais que perscrute: ao Ver não atesta.

Só tenho pena dos pobrezinhos, sem

tecto, que os acolha; não têm ninguém,

fugiu-lhes a Sorte, junto com a nébula –

bebem café quente, com a mão trémula.

Vai-te, nevoeiro! Espera-te o calmo rio!

Deixa-nos, já basta! E leva o teu frio!

Escrevo à beira mágoa, os meus versos…

escrevo; em nome, de tantos servos.

Jorge Humberto

13/01/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 13/01/2011
Código do texto: T2727134
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