O Real Inferno

Suave Inferno esse o do Deus Amor,

Esta Força que glorifica

As fraquezas d'alma,

Esta pequeneza nossa aturdida

Pela desgraçada fome

Da nossa carne a mastigar

Todos os nossos pensamentos.

Saibas,

Irmão da esfera terrestre,

Que eu me enganei

Com Profanos Demônios

Mascarados como Virgens Anjos,

Criaturas fatais

Recheadas de curvas animais,

Predadoras exterminadoras

Das minhas florestas de rosas.

O Inferno foi meu lar,

Meu doloroso lar,

Quando iludido

E sem ar

Eu respirava visões mentirosas

De vislumbres

Por faces ardilosas enganosas,

Olhos de escorpião fino,

Corpos de tubarão vil,

Tormentos,

Tormentos,

Tormentos nas mãos de carrascas

Cujas guilhotinas ceifaram

Minhas vitais mordaças!

Mudo eu era

E ousei dizer

A adorada palavra amor,

Quatro letras que moldam

Um abismo para loucos,

Pois apenas loucos amam.

Pela loucura passei,

Enlouqueci por causa de musas

Que em essência

Eram bacantes diabólicas.

Na loucura me movi,

Enlouquecido por damas

Que em impureza

Eram tão astutas

Como o meu amigo Diabo.

Senti-me ao lado

Deste filho revoltado

Do bonzinho Deus de alguma coisa,

Nas Chamas Da Deusa Dor incinerado,

Nas Torturas Da Deusa Penitência dilacerado,

Demoniacamente seduzido

Pelo bonitinho amor,

Ó,

Bonitinho amor!

Tu é tão magistral,

Amor purinho,

Que me fez

Um simples animal

Rastejando por migalhas

Da atenção de Diabas

Muito belas como Anjos

E terríveis Demônios como são!

Deus Amor,

Você é uma criancinha

Com arco e flecha

Nas mãozinhas?

Oh,

Que lindinho!

Oh,

Que gracinha!

Tu então,

Deus Amor,

Brincaste com meu Ser

Fazendo-me criancinha burrinha

Amamentada por adultas cruéis

De nomes demais,

De idades demais,

De encantos infernais

Nas mãos macias

Como as mandíbulas

De serpentes carinhosas?

Estou decepcionado,

Deus Amor,

Ouvi falar muito bem

Da Vossa fama

Ao lado da Deusa Afrodite,

Tu És uma celebridade

Por onde caminha

Doando felicidade,

Sendo prazeres,

Sendo Vida.

Deus Amor,

Descobri a Vossa Verdade:

Tu És O Pai Do Inferno,

O Pai do meu amigo Diabo,

Dá a uns poucos

A Vossa benção cegante

E a muitos de muitos

A Vossa pena amaldiçoante,

Vai fazendo amar

E se perder,

Vai fazendo amar

E morrer,

Vai fazendo amar

E se esquecer,

Vai fazendo,

Vai fazendo,

Vai fazendo,

Um trabalho de mestre

Na arte diabólica

De dar,

Tirar,

Construir o quê?

O que construiu

Em minha morte viva,

Deus Amor?

Fui apaixonado,

Desprezado fui mais!

Amei,

Desprezado sempre fiquei!

Amo,

Desprezado moro no Inferno!

Acreditei,

Eis que estou no Real Inferno!

Eu Lhe denuncio

Como O Verdadeiro Inimigo,

O Verdadeiro Adversário,

O Verdadeiro Tentador

De toda a Humanidade!

Não serei ouvido,

Sou menos humano,

Menos homem,

Por causa dos Teus sorrisos,

Do que aqueles que Tu queres

Fazer o mesmo feito comigo...

Bela vitória,

Deus Amor!

Belíssima vitória,

Deus Amor!

Belíssima linda vitória,

Deus Amor!

Vossas flechas nada infantis

Concederão a outros

O Inferno que me concedestes...

Ao fim desta denúncia,

Vos me vencestes,

Deus Amor Diabo Pai!

Eu amo ainda uma daquelas

Vossas filhas diretas...