Ídolos Em Quedas

Os ídolos caíram,

Aqueles meros ídolos

Que são menos do que o barro,

Menos do que o pó,

Menos do que a podridão insana

De um mundo extinto

Já há Eras tantas.

Foram tantos ídolos,

Tantos mentirosos homens tolos

Acreditando-se Deuses,

Que ao fim de suas

Mortais caminhadas tolas

Ganharam este trono:

O caixão onde as suas carnes apodreceram.

Por que ídolos?

Por que imbecis venerados?

Por que elevá-los

Se a queda última

Leva-os para o melhor local

Deste mundo:

Um frio cemitério?

Poder!

Dinheiro!

Fama!

Amor!

Família!

Filhos!

Velhice!

Morte!

Reencarnação!

Vida!

Nascimento!

Crescimento!

Desenvolvimento até

Os braços carinhosos da Cadavérica!

Fúteis são todos os ídolos,

Todo homem,

Toda mulher,

Eu,

Você,

Os que seremos no Amanhã,

Os que fomos no Ontem!

Ídolos,

Ídolos,

Ídolos,

Escravos dementes

A seguirem crenças dementes,

A serem demência de entes,

A terem forças dementes!

Carinhosa Deusa Ilusão,

Dama e Mãe dos ídolos,

Grande Senhora nossa,

Sutil enganadora perpétua,

Amiga da mentira nossa,

Inimiga da Verdade Perpétua,

Não tenha piedade!

Deusa Ilusão,

Somos ídolos porque escolhemos,

Porque caímos Daquela Maravilha

Onde éramos

Tão Deus Quanto Deus,

Tão perfeitos,

Tão soberanos...

Perdemos as nossas Coroas Celestiais

E merecemos

As coroas de espinhos,

Nossa unidade como ídolos,

Nossa verdade como ridículos,

Nossa luta como soldados

Numa guerra sempre além...

Espadas nos cortam!

Balas nos perfuram!

Palavras nos alucinam!

Sonhos nos provocam!

Objetivos nos evocam!

Alegrias nos cegam!

Tristezas nos alimentam!

Ah, é bom viver!

Ah, é maravilhoso viver!

Ah, é sublime viver!

Ah, como sou feliz!

Ah, como sou feliz!

Ah, como sou feliz!

Ah, como sou feliz!

Tenho tudo!

Tenho muito!

Tenho demais!

Tenho força!

Tenho beleza!

Tenho formas!

Tenho conteúdos!

Dizemos isso!

Dizemos isso tudo!

Dizemos um pouco mais!

Dizemos um pouco menos!

Mas,

Dizemos em quedas,

Dizemos em quedas...

Nossos falsos pés

Ao amanhecer das falsas manhãs

Pisam diariamente

Na rotina da cegueira,

A cegueira da rotina

Do sofrimento oculto

Do ocultado sofrer nosso!

Sofremos e dizemos que não...

Sofremos e nos unimos a esse não...

Sofremos e nos casamos com esse não...

Sofremos como o não,

Que enfim é todos nós,

O não idolatrado,

O não de ídolos!

Mãos decepadas,

Olhos perfurados,

Caminhos sem vinhos,

Vinhos sem festas,

Festas sem convidados,

Convidados sem convites:

O que sentimos, temos e dizemos!

Alcançamos um fim

A cada tempo não-contado

Nos relógios postos

Nas paredes inexistentes

Das moradias extintas

Dos países mortos

Dos nossos mundos íntimos!

E uma voz nos ridiculariza,

Nos homenageia,

Melodicamente a repetir:

Ídolos em quedas,

Ídolos em quedas,

Ídolos em quedas,

Ídolos em quedas...