Eu tenho
Dois olhos , que tudo vêem
Dois ouvidos que escutam perfeitamente
Uma boca que se cala
Duas pernas bonitas
Herança genética
Que posso abrir,
Cruzá-las
Dois braços
Quase sempre abertos
Em tempos com punhos cerrados
Com dedos apontados
Mas sempre fechados...
Inércia, inabilidade...
Mesmo, quando se tem
Capacidade jurídica...
Talvez tenha o dom
Da palavra
E tento persuadir com meu clamor...
Eu penso
Conheço o certo e o errado
O errado revolta-me
O certo me é inerente...
Como se fosse
Atributo ou propriedade de algo ou alguém,
Que não me cabe
Por mais que tente...
Criança que vislumbra um brinquedo
No guarda roupa que mais parece um
Arranha céu...
Mas ela em seu momento mágico
De existência
Tenta, sobe num banco
Em outro, e outro...
Mas tenta...
Não sabe tudo o que sei
Do impedimento absoluto
Esta pureza, não vê falta de meios
Sua inocência a faz guerreira
Ela não teme...
Ela quer, ela vai
Se não pode chora,
Esperneia e só desiste
No último instante
Coisa impossível...
Penso tanto quanto a invejo.
Nós que tudo vemos
Só conseguimos mirar
No Ato! de se sentir impelido
Mesmo com firmeza de caráter
E maioridade
Não esperneamos,
Não colocamos um banco sobre o outro
Ou usamos livros
Apenas em nossas alfaias de luxo
Não enxergamos o Impedimento; obstáculo
Porém a membrana que prende a língua pela parte inferior,
Apenas serve de repressão; para me moderar ou conter...
Por isso vemos deficientes auditivos
Que tocam...
Ouvem mais que a mim
Mais além do que
 Galgar, subjugar
 Na ânsia de obter uma vitória relativamente
 VENCEM...
Mudos que falam e expressam seus direitos
Se ouvissem,
Sofreriam detrimento
Errariam o caminho
Não encontrariam saídas
Meio de remover a dificuldade
Deixariam de ser ouvido ou percebido
Cairia em desuso...
Utilizo-me do dom da palavra
Para expressar não minha falta de caráter ou covardia,
Mas dizer que eu posso muito mais
Do que faço, digo e quero
Mas disponho-me apenas
Tão somente
A isto.
 

Crissol
Enviado por Crissol em 13/03/2011
Reeditado em 18/01/2012
Código do texto: T2846100