HOUVE UM TEMPO
Houve um tempo em que
Fui criança e meus únicos medos
Eram do escuro e de fazer algo
Que entristecesse meus pais.
Houve um tempo em que
Fui moço, dedicado, estudioso,
Apaixonado, crente, religioso...
Ia a igreja aos domingos
e levava a sério tudo
o que o padre dizia...
Inclusive, que deveríamos crer
que: “existia um Deus” justo, bondoso,
onipotente, que amava seus filhos,
que era misericordioso!...
E que hoje, não consigo entender!...
Houve um tempo em que
Fui poeta, fui romântico, caridoso.
Dei esmola aos pobres e
Distribui sorrisos aos deprimidos.
Me encantei com as pedras,
Com as árvores e arbustos
No meio do caminho
E até com as folhas secas
Em redemoinho ao vento.
Me encantei com as borboletas
Em revoadas no jardim
Sem me preocupar com os estragos
Das lagartas antes da metamorfose.
Houve um tempo em que fui sim...
Um desses que é capaz de chorar
Ao ver um filme triste na TV
Ou sentar na areia da praia solitário
Só pra ver a lua nascer cheia no horizonte.
Hoje me encontro em um outro tempo,
Em que estou mais racional.
Desiludido com tantas aparências irreais
Não me encanto mais com as borboletas
Pois sei que são apenas “pragas”
Disfarçadas com asas.
...E ao invés de me encantar
com pedras, árvores e arbustos
tento analisar as montanhas e as florestas.
Dentro do tempo que tenho hoje
Estão multiplicadas "apenas"
as incertezas e os medos.
Não dos medos da infância, mas
Das circunstâncias do cotidiano
Stressante da vida moderna.
Dentro do tempo que tenho hoje
Tento incansadamente entender
Por que já passei do meio do caminho?!...
E sei que não terei mais tempo
De superar minhas incertezas e meus medos
Antes de chagar ao fim desta jornada!...
Novembro/2006