DESAPEGO
Se me queres atirado aos teus pés
Rogando amor, rogando flores,
Como um condenado das ralés,
Condenaste-me a viver de amores.
Não vou rojar, mas vou lembrar,
Das nossas manhãs ridentes,
Vou estar cônscio do que é amar,
Do que são dores ardentes.
Mas as lágrimas não mais rojarão
Na face minha que já rojaram frias,
Quentes, arrastando no chão,
Agonizantes até ficarem vazias.
Vou muito sorrir lágrimas secas
Nos olhos a cintilarem distantes,
Mesmo que tu não mereças,
Mesmo no rosto, tais deslisantes.
Pode ser que o amor morria
Pela falta de carinho, pelos maltratos,
Pela a luz da manhã que não me sorria
E por nunca me colocares em retratos.
E se hoje eu conservo coração inerme,
É porquê não vejo motivo para guerra
Mas se tu me vês tal como um verme,
É de tanto sofrimento nesta terra.
Se sofri teu desapego descontente,
Ou se a tua punição é se abster
Não espero o teu capricho cadente,
Nem faço por isso merecer.
(YEHORAM)