PERFÍDIA
Numa madrugada de balada
Me deparei com uma perfídia
Com olhos vendados, cegada,
Com vendas de uma insídia.
Teus olhos cor de esmeraldas
Não toca, nem me desperta
E se vestes véu e grinaldas
Meu coração não aperta.
Pois teu aleivoso coração
Como Brutos, um punhal,
Escondido em tua mão
Cravaste-me num ritual.
Sorrindo, me vês morrer,
Chorando lágrimas secas
Me deixas em casa sorver
O sangue e as enxaquecas!
Devaneio e cismo no leito:
Se o meu mundo não tem
Alguém que seja perfeito
Ou que não fira ninguém?
Mas se amigo companheiro
Nos espera ver pelas costas
No meio dum nevoeiro
Surgem de súbto mampostas.
Não é um gole de pinga
Ou a garrafa suada,
E do bem que se vinga
Ou da carapetada.
Ah! Eu vi mesclar na noite a lua
Com a traição das estrelas
E com as mariolas da rua
Que não pude contê-las!
Pasmei de ver o teu olhar
De cinismo, de falsidade,
Como se eu não pudesse cavar
A minha própria felicidade.
(YEHORAM)