Portas emperradas

Não consegui dar um destino á essa casa vazia,

voltei para tentar encontrar as respostas que se perderam,

caminhar por entre os escombros de um passado doloroso,

limpar com o punho da camisa os vidros empoeirados das janelas,

relembrar como tudo começou e terminou em meio a tanta angústia,

cada qual sofrendo sua cota de erros e desilusões antagônicas,

se perguntando qual dos dois foi capaz de magoar mais o outro?

qual dos dois foi capaz de se magoar mais nesse processo?

Você perdida em sua tola arrogância desejando vinganças vazias,

eu perdido da realidade em meio as mentiras infindáveis que contei,

formamos um par perfeito no prolongamento da infelicidade mútua,

e agora fingimos não nos importar com o que procuramos esquecer,

tateando uma saída do cemitério dos vivos que nos aprisionou,

trancando nos sótãos da memória qualquer sentimento remanescente,

se perguntando qual dos dois será capaz de superar primeiro?

qual dos dois será capaz de dramatizar melhor um fim sem término?

A casa de portas emperradas, telhado ruim e cortinas esgarçadas

está dentro de nós como uma cicatriz do que fomos um com o outro,

nos obrigando a conviver com nossos medos mais ocultos,

mesmo quando nos propomos a demolição de seus alicerces,

não encontramos forças para derrubar essas estruturas,

e permanecemos parados com a marreta nas mãos,

se perguntando qual dos dois possui mais ódio e desprezo pelo outro?

qual dos dois usa melhor suas defesas contra aquele incômodo sentimento que teima em ficar, mesmo renegado diariamente?