Pedido

(À Denilde Brasil)

Se eu morrer assim de repente

Faça-me o favor

De avisar àquela gente

Que aqui já não estou...

Mas, você que sabe de mim,

Diga também

Que não fui tão diferente,

Fale dos meus projetos,

Principalmente

Dos projetos que não iniciei...

Diga que sonhei,

Que sonhava,

Que tinha esperança...

Fale o quanto lutei

Por me fazer menos

Casmurro e gostar mais do dia...

Diga o quanto perscrutava,

Entre as coisas que vivia,

Um motivo para sorrir,

Uma verdadeira alegria...

Diga que fui sem rancor,

Que amei a toda gente...

(Você sabe que em mim

Há amor...)

E peça desculpas por mim,

Por ter-me sido tão densamente,

E ter procurado primeiro

Compreender-me ao invés

E entender àquela gente...

(Isso talvez tenha sido um erro,

Fale disso também...)

Fale que apesar de tudo,

Acho que amealhei

Alguma felicidade,

Que fui feliz em saber deles,

Mesmo que, na maioria das vezes,

O silêncio tenha me tragado,

E eu nada tenha falado...

Mas você,

Que mora em meu coração,

Faça isso por mim,

Não deixe que ninguém se

Pergunte por que sumi...

Sem alarde,

Sem nada...

Diga que não quero epitáfios,

Nem poemas de última hora...

Que ninguém carregue em si,

Mesmo que pelo menor tempo possível,

O peso de minha morte...

Diga isso,

Que fui assim de repente,

E que uma de minhas esperanças,

E agonias,

Era exatamente isto:

Que só a morte me libertasse...

Ah, perdão a você,

Mas não tenho ninguém

A quem pedir o que te peço...

E assim, minha amiga,

Deixo a ti minha gratidão,

E me perdoe, por favor,

Por ter, às vezes,

Tomado tuas noites,

Fazendo tuas as minhas solidões...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 12/12/2006
Reeditado em 13/12/2006
Código do texto: T316518
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