Eu e o espelho

Olho-te continuamente, vejo-te na tentativa ilusória de fuga.

Percebo que a cada lágrima perdes o gosto pela vida.

A maquiagem desfigurada, as mãos trêmulas, o rosto pálido, são apenas vestígios de uma profana ambição pelo mórbido devaneio noturno.

Os dedos afagam a própria pele quase morta, as olheiras, dão-lhe uma aparência genuinamente gótica.

Olhos, boca, mãos e pés...

Apenas um corpo sem alma, o olhar frio, o semblante gélido, as lágrimas apenas escorrendo, como se não viessem de lugar algum.

Os movimentos monótonos dos braços, leva as mãos até uma lâmina levemente afiada.

Pressionando-a sobre o pulso, vejo o sangue sendo derramado sobre a superficie morta.

Esse é apenas um sangue amargo, derramado por existências a fio, um sangue dramatico, de uma vida esquecida.

Vejo-a novamente, está a minha frente, com os pulsos cortados, sangrando por fora e por dentro.

O tempo vai passando, a sangue derramando, fechem meus olhos, pois no espelho estou me olhando.

funérea
Enviado por funérea em 14/12/2006
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