Eu e o espelho
Olho-te continuamente, vejo-te na tentativa ilusória de fuga.
Percebo que a cada lágrima perdes o gosto pela vida.
A maquiagem desfigurada, as mãos trêmulas, o rosto pálido, são apenas vestígios de uma profana ambição pelo mórbido devaneio noturno.
Os dedos afagam a própria pele quase morta, as olheiras, dão-lhe uma aparência genuinamente gótica.
Olhos, boca, mãos e pés...
Apenas um corpo sem alma, o olhar frio, o semblante gélido, as lágrimas apenas escorrendo, como se não viessem de lugar algum.
Os movimentos monótonos dos braços, leva as mãos até uma lâmina levemente afiada.
Pressionando-a sobre o pulso, vejo o sangue sendo derramado sobre a superficie morta.
Esse é apenas um sangue amargo, derramado por existências a fio, um sangue dramatico, de uma vida esquecida.
Vejo-a novamente, está a minha frente, com os pulsos cortados, sangrando por fora e por dentro.
O tempo vai passando, a sangue derramando, fechem meus olhos, pois no espelho estou me olhando.