UM SEGREDO

Nem lembro mais quando paramos de acreditar no outro;

Não digo próximo, digo outro que já gradeei todas as janelas da minha casa.

Pois sim, moro num país onde todos, absolutamente todos, perderam a fé no outro.

Não que antigamente houvera,

Mas que só se estava preparado para mentir após os trinta e dois anos;

Antes dessa idade, cada um tinha em si todos os sonhos do mundo.

Atualmente, o maior desejo dos cidadãos deste país é estuprar a nossa mátria;

Com humor que estou hoje não consigo fazer plano nem para o dia seguinte;

Seria até bom que eu não tivesse noção da passagem do tempo;

Assim não sentiria asco do porvir nem o passado me poria este gosto acre na boca.

Não, não penso em dar cabo de minha vida;

Aliás, não entendo como alguém pode ter essa idéia tão estúpida se a morte é inevitável.

Só estou no momento com uma big vontade de esfregar a cara de um na piçarra.

Eu poderia sublinhar mais de dois mil motivos para este meu entojo pela vida,

(sem sair do meu bairro),

Geralmente estas coisas que citei me são no máximo desprezíveis.

Mas quer saber o que realmente fez minha bile cair no meu rim esta manhã?

Saber a verdadeira causa deste azedume sem medida?

Foi ela não dizer palavra

Depois de uma noite maravilhosa

E sair pra trabalhar sem me dar um beijo.

Deixando meu coração qual mosca presa em estufa.

E eu a passar o dia tentando rememorar vacilos

Do que fiz... ou falei... ou não...

Ô ingrata!

Saulo Palemor
Enviado por Saulo Palemor em 02/10/2011
Reeditado em 25/01/2017
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